A História de Cascais
Situado a ocidente do estuário do Tejo, entre a serra de Sintra e o oceano Atlântico, o território ocupado pelo Concelho de Cascais é limitado a norte pelo concelho de Sintra, a sul e a ocidente pelo oceano e a oriente pelo concelho de Oeiras.
Cascais moderno
O movimento da baía acentuou-se no período inicial dos Descobrimentos e Expansão, ordenando D. João II, em 1488, a edificação de uma torre defensiva. Foi em Cascais que desembarcou Nicolau Coelho, o primeiro capitão da armada de Vasco da Gama a chegar da Índia, no intuito de se deslocar até Sintra para informar o monarca da boa nova. Mais tarde, em 15 de novembro de 1514, D. Manuel I concedeu o foral de vila a Cascais, o primeiro texto regulador da vida municipal, uma vez que persistia a utilização do foral de Sintra. Já em 11 de junho de 1551, por licença de D. João III, instituiu-se a Santa Casa da Misericórdia de Cascais.
No ano de 1580 as tropas espanholas, sob o comando do Duque de Alba, desembarcaram em Cascais, conquistando a fortaleza e saqueando a vila. Também sob o domínio filipino, em 1589, aquando da tentativa gorada da conquista de Lisboa conduzida por D. António, Prior do Crato, os soldados ingleses que o acompanhavam pilharam a povoação.
Consciente das deficiências defensivas da região, D. Filipe I mandou levantar a Fortaleza de Santo António do Estoril e abaluartar a antiga torre joanina de Cascais, que passou a ser conhecida por Fortaleza de Nossa Senhora da Luz. Não obstante, após a restauração da independência, em 1640, procedeu-se à edificação de uma vasta linha defensiva no litoral concelhio, com a ampliação e restauro das fortificações existentes. Construiu-se também mais de uma dezena de baluartes, sob a direção do Conde de Cantanhede, encarregue da defesa da barra do Tejo, porta de acesso à cidade de Lisboa.
De entre as estruturas então levantadas importa destacar a Cidadela de Cascais que, construída junto à Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, reforça consideravelmente a defesa deste ponto estratégico da costa.
Ainda que se tenha empenhado sobretudo no desenvolvimento do cde Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e depois Marquês de Pombal, apresentou-se como um dos principais defensores da vinha e do vinho de Carcavelos, devendo-se-lhe, ainda, a concessão de benefícios para a edificação da Real Fábrica de Lanifícios de Cascais, em 1774. Mas aquando do terramoto de 1 de novembro de 1755 a vila ficou quase totalmente destruída.
Cascais contemporâneo
No início do século XIX, Cascais não ficou imune às Invasões Francesas (1807-11).
Entre Carcavelos e Paço d’Arcos foi construída, por ordem de Arthur Wellsley, Duque de Wellington, a terceira linha de um conjunto defensivo da península de Lisboa conhecido por “Linhas de Torres Vedras”, que protegeria o embarque do exército inglês em caso de derrota militar.
Seguiu-se o período das lutas liberais (1828-1834), sabendo-se que durante o reinado miguelista a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz foi utilizada como prisão dos seus opositores.
A decadência da povoação acentuou-se em 1834 com a extinção das ordens religiosas instaladas no concelho e com a retirada do Regimento de Infantaria 19.
A partir de 1859, com o início da construção da estrada ligando a vila a Oeiras e, depois, da estrada até Sintra, Cascais liberta-se de uma certa estagnação. Em 1868 surge o Teatro Gil Vicente, cuja construção foi financiada pelo lisboeta Manuel Rodrigues Lima, que entregou a sua direção à sociedade dramática existente em Cascais.
1870 – Cascais torna-se praia da corte
Em 1870, Cascais assiste a uma viragem decisiva na sua história, quando o rei D. Luís escolheu a vila como sua “estância de banhos”, adaptando os aposentos do Governador da Cidadela a Paço Real. Esta decisão, estando diretamente ligada à melhoria das vias de comunicação, relacionou-se também com a localização privilegiada da vila em relação a Lisboa e a Sintra, para além, claro, da sua beleza natural.
Ao eleger Cascais para local de férias, D. Luís arrastou consigo a corte e alta burguesia. Entre setembro e novembro os hábitos alteravam-se com a chegada dos veraneantes que conduziram à intensificação da vida social: dos banhos de mar às soirées e bailes no palácio real.
Para receber tão ilustres visitantes, a vila viu surgir chalets, hotéis, restaurantes e locais de lazer, como o Casino da Praia.
O surto vilegiaturista imprimiu um rápido desenvolvimento a toda a orla costeira concelhia, coadjuvado pela inauguração do primeiro troço de caminho-de-ferro entre Cascais e Pedrouços, em 30 de setembro de 1889.
É este o período do florescimento dos Estoris.
Primeiramente o Monte Estoril, sob o impulso de uma poderosa companhia; depois São João do Estoril, onde triunfou um individualismo secundado pela fama dos Banhos da Poça.
Despontou, ainda, a nova Parede, projetada por Nunes da Mata.
Carcavelos manteve-se como um terreno privilegiado para a vinha. O crescimento da localidade deveu-se também à fixação da colónia britânica que, desde 1872, explorava o cabo submarino a partir da Quinta Nova de Santo António, depois dos Ingleses.
Sob a visão de Fausto de Figueiredo e do seu sócio, Augusto Carreira de Sousa, surgiu, em 1913, o projeto do Estoril enquanto centro vilegiaturista de ambições internacionais.
O início da Primeira Guerra Mundial implicará atrasos consideráveis na sua concretização, pelo que só em 16 de janeiro de 1916 se procedeu à colocação da primeira pedra para a construção do casino.
Seguiu-se um período de intensa construção nas zonas conquistadas ao pinhal, às terras de lavoura e às pedreiras, facilitada, desde 1940, pelo fácil acesso rodoviário proporcionado pela estrada marginal, junto ao mar.
A opção pela neutralidade na Segunda Guerra Mundial e a proximidade em relação a Espanha, que vivia em plena Guerra Civil, tornou Portugal um território seguro para milhares de refugiados e exilados.
Entre eles contaram-se pessoas ilustres como o conde de D. Juan de Battenberg e Bourbon (pai do Rei D. Juan Carlos), o Rei Humberto II de Itália, Carol II da Roménia, os arquiduques da Áustria e Hungria, a família real dinamarquesa, a Grã-Duquesa Charlotte do Luxemburgo, entre outros.
Pela costa do Estoril passaram também personalidades de diversas áreas, como os escritores Maurice Maeterlinc e Ian Fleming, o economista John Keynes ou o realizador Orson Welles, como comprova um conjunto de boletins de alojamento de estrangeiros da época, depositados no Arquivo Histórico Municipal de Cascais.
O concelho assumiu-se, então, como centro turístico de primeira ordem, recebendo durante e depois da Segunda Guerra Mundial um elevadíssimo número de refugiados e exilados, de entre os quais se destacar os Condes de Barcelona, o Rei Humberto II de Itália, Carol II da Roménia e inúmeras figuras do panorama desportivo e cultural.
Ainda hoje Cascais continua a manter esta vocação de espaço de acolhimento, norteando a sua atividade turística e cultural pelos critérios de qualidade exigidos pelos seus frequentadores.
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